Sociedade

Professor de artes cria redação de jornal na sala de aula

Por Diego Cuesta da Silva*

Professor usou horário na grade para desenvolver projeto que transforma alunos do fundamental 2 em repórteres e incentiva trabalho colaborativo.

A inovação começa quando temos coragem para sair de nossas zonas de conforto e decidimos encarar as dificuldades que uma situação inusitada pode trazer. Como sou professor de artes, queria trabalhar com uma linguagem diferente da plástica. A escola em que eu trabalho oferece aos professores um “canto”, um horário de aula, que nós chamamos de aula-projeto, que sai um pouquinho do currículo.

Por isso, decidi que iria trabalhar jornalismo com os alunos, transformando a sala de aula em uma verdadeira redação de jornal. O “Viva Jornal” é um projeto integrado, que une alunos do sexto e sétimo ano do ensino fundamental.

Em um primeiro momento, percebi que os alunos conheciam bem pouco o funcionamento de um jornal. Eu apresentei a Folha de S. Paulo e expliquei que esse tipo de publicação tem divisões, que são os cadernos de política, cultura, esportes, entre outros.

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Depois disso, eles se agruparam de acordo com o interesse pelas editorias e formaram diversas “redações” pela sala. A diferença é que as reportagens a serem produzidas falariam do universo da escola. Em economia, por exemplo, eles falaram sobre o preço dos alimentos na cantina.

Os alunos decidiam o assunto, montavam uma pequena pauta com o que iam perguntar aos entrevistados pela escola e saíam com o celular para gravar o áudio da entrevista. O celular foi uma ferramenta de trabalho muito importante, porque serviu como um gravador.

Depois, eles voltavam pra sala e tinham três aulas para produzir a reportagem. No final dessas quatro semanas, cada editoria tinha uma reportagem pronta para ser apresentada. O ciclo se repetia mais uma vez e os alunos tinham a chance de criar uma segunda notícia. Ao final de oito semanas, os grupos eram trocados e começava tudo de novo. Inicialmente, a ideia era que essas matérias fossem veiculadas de forma impressa. Mas, por uma questão de custo, nós acabamos publicando no blog da escola.

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As produções dos textos aconteceram na sala de aula, nos laptops da escola. A instituição trabalha com um laboratório móvel de informática. Ou seja, quando um professor precisa usar os equipamentos, ele faz um pedido e as máquinas são levadas até a classe. Nesse contexto, o posicionamento dos alunos na sala muda completamente. Já não é mais aquela coisa enfileirada.

O ponto que mais chamou a minha atenção no trabalho foi o envolvimento dos alunos. Na sala de aula, jovens de 11, 12 ou 13 anos tendem a ser um pouco agitados. Mas eu percebi que, como não era um conteúdo que eles tinham que absorver – muito pelo contrário, eles tinham que produzir um conhecimento –, eles se organizaram superbem. Quando o problema foi passado para que eles resolvessem, todos foram ótimos. Além disso, questões como indisciplina, dispersão ou até sono não aconteceram. Eles ficaram extremamente interessados no que estavam fazendo. A possibilidade do aluno escolher o que ele vai fazer muda tudo. (Porvir/ #Envolverde)

* Diego Cuesta da Silva é Mestre em Estética e História da Arte pela Universidade de São Paulo. Licenciado em História pela mesma universidade e licenciado em Artes Visuais pela Universidade Metropolitana de Santos-SP. Arte-educador há 12 anos, com atuação em museus e instituições culturais. Atualmente ministra aulas de Artes Visuais e História no ensino fundamental 2 da rede particular.

** Publicado originalmente no site Porvir.