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TERRAMÉRICA - Sol na mineração

Painéis fotovoltaicos de projetos de pesquisa desenvolvidos pela Universidade de Antofagasta. Foto: Cortesia David Pasten
Painéis fotovoltaicos de projetos de pesquisa desenvolvidos pela Universidade de Antofagasta. Foto: Cortesia David Pasten

A energia solar pode abastecer uma parte da demanda elétrica da mineração chilena.

Santiago, Chile, 7 de outubro de 2013 (Terramérica).- A mineração no norte do Chile, primeiro produtor mundial de cobre, busca saciar sua avidez por energia com uma fonte renovável e sempre disponível: o Sol. A luz solar é abundante no deserto de Atacama, que concentra a maior radiação do planeta: entre sete e 7,5 quilowatts/hora por metro quadrado, segundo estudos da Universidade do Chile.

Se ali fossem instalados painéis fotovoltaicos que cobrissem uma área de 400 quilômetros quadrados, seria possível atender todo o consumo elétrico nacional. Entretanto, no momento quase toda a eletricidade do norte do Chile é consumida pela indústria da mineração em constante expansão, que já absorve 90% da geração. O restante vai para usos residenciais, comerciais e públicos.

Na região de Tarapacá, limítrofe com a Bolívia, foram levantados projetos solares no valor de US$ 1,4 bilhão. Entre eles, o parque voltaico Atacama Solar vai gerar 250 megawatts em uma superfície de mil hectares e custo de US$ 773 milhões. Na mesma região, o Complexo Solar Pica pretende injetar 90 megawatts no Sistema Interligado do Norte Grande, com investimento de US$ 228 milhões.

Em Antofagasta, um pouco mais ao sul, 1.700 quilômetros ao norte de Santiago, a estatal Corporação Nacional do Cobre (Codelco) inaugurou, em junho do ano passado, a Calama Solar 3, a primeira usina fotovoltaica industrial do país, destinada a fornecer energia elétrica para as áreas onde opera a mina Chuquicamata. A usina tem potência instalada de um megawatts e permitiu reduzir as emissões de dióxido de carbono em 1.680 toneladas por ano, de acordo com a Codelco.

O interesse das empresas mineradoras pelo Sol aparece quando estas veem fracassar, um após outro, planos energéticos tradicionais para abastecer seu crescimento, na maioria das vezes por decisões judiciais que consideram seus impactos ambientais. Os custos de energia subiram sete vezes na última década. E a mineração deve mostrar alguma redução de emissões de gases-estufa.

“As mineradoras demandam diversos tipos de energia, entre eles a energia elétrica e térmica” (aquecimento e transporte), disse ao Terramérica o acadêmico Edward Fuentealba, do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Antofagasta. “As tecnologias solares atualmente podem abastecer a demanda térmica, o que significa substituir o diesel ou o gás, o que é rentável”, acrescentou. O Chile precisa importar quase todo combustível fóssil que consome.

A Solarpark, a empresa espanhola que construiu Calama Solar 3, assegura que se trata da usina fotovoltaica mais produtiva do mundo por unidade de potência instalada. A companhia já construiu Calama Solar 1 e 2, cada uma com nove megawatts, e iniciou, em março, a instalação em Tarapacá da usina Pozo Almonte Solar, de 25 megawatts, para fornecer durante o dia 13% da energia que a mineradora Doña Inés de Collahuasi necessita. Segundo a empresa, seu funcionamento evitará a emissão de 50 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano.

Apesar do entusiasmo, a energia solar tem limitações porque não está disponível nas 24 horas do dia, explicou Fuentealba. “Hoje, pode abastecer a demanda elétrica em uma porcentagem limitada, inferior a 20%, seja com tecnologias fotovoltaicas ou de concentração”, que utilizam lentes ou outros dispositivos ópticos para concentrar grande quantidade de radiação em uma pequena superfície de células geradoras.

O armazenamento é o problema “quanto a ofertar energia nas horas sem luz solar”, afirmou Fuentealba. Porém, nos próximos anos, “temos a certeza de que podemos aumentar essa porcentagem para ir substituindo combustíveis fósseis até termos um sistema dependente apenas de energias limpas”, acrescentou.

O subsecretário de Energia do Chile, Sergio del Campo, informou ao Terramérica que está em estudo armazenar energia solar em sais fundidos, nitratos de sódio e de potássio, que são produzidos no norte. Isso permitiria um fornecimento elétrico contínuo, já que parte do calor capturado seria usado para esquentar os sais fundidos até cerca de 570 graus e acumulá-los em um grande tanque que funciona durante a noite para produzir vapor, que movimenta uma turbina geradora de eletricidade.

“Esse armazenamento poderia representar até 80% de produção de energia no ano, podendo chegar a 90%”, pontuou Del Campo. No longo prazo, “a energia solar, com preço semelhante ao do carvão, poderia ser uma alternativa real para o norte”, destacou.

Juan Carlos Guajardo, diretor-executivo do Centro de Estudos do Cobre e da Mineração (Cesco), acredita que a solução para a escassez energética das mineradoras está no Sol. A demanda não atendida de eletricidade dessas empresas foi o que elevou os custos, e os dois problemas só podem ser abordados com soluções de grande envergadura, que garantam uma oferta abundante, ressaltou ao Terramérica.

A geração termoelétrica, a carvão ou diesel, e a hidrelétrica poderiam dar essa resposta. Mas os problemas ambientais ou sociais mantêm paralisados esses projetos ou os derrubam. Envolverde/Terramérica

* A autora é correspondente da IPS.

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