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TERRAMÉRICA - Proteger para conservar

Panamá, Costa Rica, Equador, norte do Peru e as ilhas do Mar do Caribe são lugares que precisam de proteção urgente para se conseguir cumprir a meta global de conservação até 2020, afirma um novo estudo.

Uma família navega no rio San Juan, um local de grande biodiversidade na fronteira da Costa Rica com a Nicarágua. Foto: Germán Miranda/IPS
Uma família navega no rio San Juan, um local de grande biodiversidade na fronteira da Costa Rica com a Nicarágua. Foto: Germán Miranda/IPS

Uxbridge, Canadá, 9 de setembro de 2013 (Terramérica).- Uma equipe de cientistas que analisou a riqueza de fauna e flora do planeta concluiu que na América Latina se concentram os ecossistemas que devem ser protegidos imediatamente, se quisermos cumprir até 2020 a meta de conservação do Convênio sobre a Diversidade Biológica. O sistema natural que fornece ar, água e alimentos à humanidade funciona graças a 8,7 milhões de espécies de plantas, peixes, insetos e outros animais. Contudo, esses seres vivos estão se extinguindo em ritmo acelerado, ameaçando gravemente o futuro do gênero humano, afirmam cientistas.

Em resposta a esta ameaça, quase todos os países do mundo acordaram, por meio do Convênio das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CBD), proteger 17% das áreas terrestres do planeta e conservar 60% das espécies vegetais até 2020. Estes objetivos, incluídos nas 20 Metas de Aichi, só poderão ser cumpridos se houver proteção adequada a muito mais terras no Caribe e nas Américas Central, do Norte e do Sul, segundo um novo estudo divulgado no dia 6 pela revista Science.

A pesquisa Achieving the Convention on Biological Diversity’s Goals for Plant Conservation (Cumprindo os Objetivos do CDB para a Conservação das Plantas) analisa a distribuição de 110 mil espécies vegetais e determina que 67% delas se encontram em 17% da área terrestre, principalmente em regiões tropicais e subtropicais. “Nosso artigo expõe as áreas prioritárias para a proteção, segundo sua riqueza de espécies”, explicou ao Terramérica um de seus coautores, Stuart Pimm, da Duke University, no Estado norte-americano da Carolina do Norte. Essas áreas prioritárias incluem Panamá, Costa Rica, Equador, norte do Peru e as ilhas do Caribe, acrescentou.

A Costa Rica possui quase 800 espécies endêmicas, que não são encontradas em nenhuma outra parte do mundo. O Canadá, com uma superfície quase 200 vezes maior do que o pequeno país centro-americano, tem apenas 70 espécies únicas, dispersas em sua área terrestre de nove milhões de quilômetros quadrados. O motivo deste desequilíbrio é o clima frio canadense e a última Era do Gelo, que há dez mil anos enterrou todo seu território sob uma camada gelada de vários quilômetros de profundidade.

O estudo conclui que menos de um sexto das regiões prioritárias estão protegidas. Embora a Costa Rica proteja pelo menos 20% de sua área terrestre, muito mais do que qualquer outro país, não há informação suficiente para saber se isso é suficiente, observou Pimm. “No tocante às plantas não temos dados para definir quanto deveria ser protegido em determinado país ou onde deveriam estar estas áreas” dentro desse território, afirmou. Por outro lado, há muito mais informação sobre aves e outros animais, que foi usada para identificar “os pontos quentes da biodiversidade”, acrescentou.

Este novo estudo confirma a existência da maioria desses lugares, mas leva a análise mais longe, com uma metodologia melhor. Existe uma correlação entre a diversidade de plantas e a de outras espécies, mas também são muitas as exceções. Uma floresta tropical pode ter muitos anfíbios, enquanto uma ilha tropical com uma quantidade semelhante de plantas pode não ter nenhum, explicou o cientista. A maioria das partes nacionais e áreas protegidas existentes está frequentemente em áreas remotas, áridas e inóspitas. Com estes novos dados, é mais fácil demarcar zonas ricas em biodiversidade para protegê-las.

“A cruel realidade é que a maioria das áreas prioritárias que precisam de proteção geralmente estão em países pobres, como Madagascar ou Equador”, afirmou ao Terramérica outro coautor do estudo, Clinton Jenkins, ecologista e especialista em conservação da North Carolina State University, que também trabalha para uma organização não governamental brasileira. “A Costa Rica tem de proteger uma porção maior de sua superfície do que o Canadá se quisermos deter a maré de extinções”, pontuou Jenkins.

Mobilizar apoio internacional para proteger a biodiversidade em outros países é muito difícil. Dentro do Plano Estratégico da CDB para cumprir estes objetivos até 2020, os países industrializados acordaram duplicar a ajuda destinada à biodiversidade até 2014 e manter esses níveis até o último ano do plano. “Isto é crucial para se alcançar qualquer objetivo”, afirmou ao Terramérica David Ainsworth, porta-voz da CDB.

O Equador propôs proteger dez mil quilômetros quadrados de sua região amazônica para evitar a perfuração petroleira mediante a iniciativa Yasuní-ITT, destinada a deixar no subsolo o óleo do parque amazônico de mesmo nome, em troca de uma compensação econômica internacional estimada em US$ 3,5 bilhões, recordou Jenkins. Porém, em cinco anos, o fundo destinado a reunir esses recursos não conseguiu mais do que US$ 13,3 milhões, e agora o Equador se prepara para autorizar as perfurações.

Segundo Jerkins, já está sendo construída uma nova estrada que atravessa a região. Inevitavelmente, as estradas trazem desmatamento, com impactos negativos também sobre as comunidades indígenas locais, destacou. Os povos originários tagaeri e taromenane vivem em isolamento voluntário nessa região. Se for empregada a perfuração direcional de longo alcance, os danos podem ser minimizados, porque não são necessárias as estradas. Isto não implica forçosamente mais custos, mas nem todas as empresas dominam a tecnologia, indicou.

“Se vão extrair petróleo, cabe ao governo equatoriano garantir que as companhias causem o mínimo impacto”, acrescentou Jerkins. Algumas regiões do mundo são simplesmente mais importantes para a biodiversidade. O Yasuní é uma delas. “Ou se protege as espécies em extinção ou estas desaparecerão para sempre, e ninguém jamais voltará a vê-las. É imoral permitir isso”, ressaltou. Envolverde/Terramérica

* O autor é correspondente da IPS.

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Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.