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Terramérica - Gás e Sol iluminam a estrada energética em El Salvador

Claudia Biaza, coordenadora de projetos ambientais do Eco Hotel Árbol de Fuego, na sacada de seu negócio familiar em São Salvador. Atrás, o aquecedor solar instalado para esquentar a água. Foto: Edgardo Ayala/IPS
Claudia Biaza, coordenadora de projetos ambientais do Eco Hotel Árbol de Fuego, na sacada de seu negócio familiar em São Salvador. Atrás, o aquecedor solar instalado para esquentar a água. Foto: Edgardo Ayala/IPS

São Salvador, El Salvador, 14 de julho de 2014 (Terramérica).- El Salvador avança com passo firme para a diversificação da geração de eletricidade, com um plano para impulsionar o uso de fontes mais limpas e conseguir, a partir de 2018, uma mudança substancial em sua matriz energética. Os projetos de energia limpa, como a solar, ainda incipientes no país, levantam o véu e se vê as primeiras mudanças em um setor onde prevalece a geração por derivados de petróleo.

Este país centro-americano depende tradicionalmente do “búnker” (combustível residual derivado do petróleo) e do diesel para a geração de eletricidade. Essas duas fontes abastecem 41% da demanda do setor, em um esquema instável devido à oscilação dos preços internacionais do petróleo. À geração térmica por “búnker” e diesel seguem a hidroeletricidade (31%), geotermia (25%) e biomassa (3%). Esta última desenvolvida pelos engenhos de açúcar, que queimam o bagaço da cana para produzir o vapor que move as turbinas.

“É uma matriz que não nos convém, é pouco diversificada, e, quando os preços do petróleo sobem, aqui também aumenta a tarifa de energia”, disse ao Terramérica Carlos Nájera, diretor de desenvolvimento de recursos renováveis do estatal Conselho Nacional de Energia (CNE). O CNE estabeleceu a partir de 2011 um novo modelo de compra e venda de energia, no qual as distribuidoras são obrigadas a adquirir 75% de sua geração mediante contratos de longo prazo, para assim reduzir as variações nos ajustes tarifários trimestrais.

Neste pequeno país, com 6,2 milhões de habitantes, a produção de eletricidade era de 5.544 gigawatts/hora em 2009, e para 2015 se projeta que chegará aos 6.787 gigawatts/hora. Atualmente, 97,8% da população urbana tem acesso à eletricidade, enquanto no meio rural o índice cai para 85,6%, segundo o Ministério da Economia. Desde 2009, o CNE lidera um esforço do governo para mudar esse padrão na geração, a fim de incorporar novas tecnologias que o tornem mais eficiente e ambientalmente limpo.

Desde 2009, está no poder a esquerdista e ex-guerrilheira Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN). O governo de Salvador Sánchez Cerén, na Presidência desde junho, confirmou o plano de seu antecessor, para que a partir de 2018 a geração de eletricidade à base de derivados de petróleo seja apenas 15% do total, 26% a menos do que agora.

O plano também estabelece que a hidroeletricidade fornecerá 26%, a geotermia 20% e a biomassa 2%, entre as fontes atuais. Mas a maior novidade é a que determina que 35% devem passar a ser fornecidos por gás natural, 2% por energia solar e 1% por eólica. “Vamos na direção correta para conseguir esses objetivos”, pontuou Nájera.

O avanço mais recente ocorreu em junho, com a entrega por leilão público de 94 megawatts (MW) de energia solar ao consórcio internacional formado pelas empresas UDP Neoen-Almaval, UDP Projeto La Trinidad e Solar Reserve Development. Estas empresas deverão instalar centrais fotovoltaicas para que comecem a operar em outubro de 2016, por um período de 20 anos. O investimento gira em torno dos US$ 300 milhões.

O processo de entrega foi apadrinhado pela empresa privada Distribuidora de Eletricidade DelSur e auditado pela Superintendência Geral de Eletricidade e Telecomunicações (Siget). Participaram da licitação internacional 26 empresas da Alemanha, Espanha, França e México, entre outros países. “Tivemos muito boa resposta por parte das empresas. Isso significa que há confiança e que há capacidade de oferta”, destacou ao Terramérica a gerente de Planejamento Comercial DelSur, Ingrid Chávez.

Atualmente existem no país pequenos projetos solares, para abastecer escolas rurais ou famílias camponesas. Mas o contrato concedido no mês passado é o primeiro de envergadura em energia solar em El Salvador. E novos projetos, de tamanho menor, também estão a caminho. Um deles é a instalação da Planta Fotovoltaica 15 de Setembro, de 14,2 MW de capacidade, a primeira de seu tipo e atualmente em fase de licitação. Outro projeto semelhante, com capacidade de 12 MW, também está em processo.

Em conjunto, o objetivo é que em 2018 sejam produzidos 200 MW de energia solar, para cumprir a meta de que essa fonte forneça 2% da geração elétrica. A licitação de junho também incluiu 40 MW de energia eólica, mas as duas empresas participantes superaram o preço do megawatt estipulado pela Siget, de US$ 123, por isso não foi efetivada a concessão.

São Salvador, El Salvador, 14 de julho de 2014 (Terramérica).- El Salvador avança com passo firme para a diversificação da geração de eletricidade, com um plano para impulsionar o uso de fontes mais limpas e conseguir, a partir de 2018, uma mudança substancial em sua matriz energética. Os projetos de energia limpa, como a solar, ainda incipientes no país, levantam o véu e se vê as primeiras mudanças em um setor onde prevalece a geração por derivados de petróleo. Este país centro-americano depende tradicionalmente do “búnker” (combustível residual derivado do petróleo) e do diesel para a geração de eletricidade. Essas duas fontes abastecem 41% da demanda do setor, em um esquema instável devido à oscilação dos preços internacionais do petróleo. À geração térmica por “búnker” e diesel seguem a hidroeletricidade (31%), geotermia (25%) e biomassa (3%). Esta última desenvolvida pelos engenhos de açúcar, que queimam o bagaço da cana para produzir o vapor que move as turbinas. “É uma matriz que não nos convém, é pouco diversificada, e, quando os preços do petróleo sobem, aqui também aumenta a tarifa de energia”, disse ao Terramérica Carlos Nájera, diretor de desenvolvimento de recursos renováveis do estatal Conselho Nacional de Energia (CNE). O CNE estabeleceu a partir de 2011 um novo modelo de compra e venda de energia, no qual as distribuidoras são obrigadas a adquirir 75% de sua geração mediante contratos de longo prazo, para assim reduzir as variações nos ajustes tarifários trimestrais.
Painéis solares instalados no teto do Ministério da Fazenda, na capital de El Salvador, com capacidade para gerar 24 quilowatts de eletricidade. Foto: Edgardo Ayala/IPS

Em novembro passado, foi outorgado, também por licitação pública, um contrato ao consórcio de empresas estrangeiras e locais Quantum-Glu, para a geração de 355 MW a partir do gás natural. O investimento previsto é de aproximadamente US$ 900 milhões. O gás natural, que será importado pela empresa ganhadora, dará o rumo para a matriz dominada pelo petróleo e, segundo a Siget, colocará o país na vanguarda de geração de eletricidade na América Central. Além disso, como o custo do MW gerado por essa fonte é mais barato, baixará a conta de energia elétrica para os consumidores.

De todo modo, a mudança no padrão energético do país é apenas um dos vários aspectos contidos na Política Energética Nacional, desenhada pelo CNE, na busca de formas sustentáveis de aliviar o consumo de energia. Outro fator importante é a promoção de uma cultura de eficiência e economia de energia, um esforço que também começou a ser tocado. Em abril, o CNE premiou várias empresas, grandes e pequenas, bem como instituições governamentais, que ofereceram as melhores iniciativas em eficiência energética, com um enfoque de sustentabilidade ambiental.

O Eco Hotel Árbol de Fuego foi um dos ganhadores. Este negócio familiar, um estabelecimento de 19 quartos, pagava uma conta de energia mensal de US$ 1.300 quando abriu, em 2001, mas depois se envolveu em um projeto de economia de eletricidade, água e gás, e começou a se esforçar para ser mais eficiente. Instalou um aquecedor solar de água, foram feitas modificações no transformador e no sistema de ar-condicionado, entre outros aspectos.

Atualmente, a conta de energia baixou 60% e as proprietárias se esforçam para continuar economizando até o mínimo recomendado, para a partir daí instalar os painéis solares. “Não podemos passar à fase de energia voltaica se não tivermos alcançado o mínimo em economia, mas vamos nessa direção”, afirmou ao Terramérica a coordenadora de Projetos Ambientais do hotel, Carolina Baiza. Envolverde/Terramérica

* O autor é correspondente da IPS.

 

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Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação apoiado pelo Banco Mundial Latin America and Caribbean, realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.