Internacional

Saúde materno-infantil é chave no Quênia

Margaret Kenyatta, a primeira-dama do Quênia, visita um centro de saúde no condado de Mandera, diante do olhar atento de Babatunde Osotimehin, diretor executivo do UNFPA, no dia 6 de novembro de 2015. Foto: UNFPA
Margaret Kenyatta, a primeira-dama do Quênia, visita um centro de saúde no condado de Mandera, diante do olhar atento de Babatunde Osotimehin, diretor executivo do UNFPA, no dia 6 de novembro de 2015. Foto: UNFPA

Por Mette Knudsen e Siddharth Chatterjee*

Condado de Mandera, Quênia, 20/1/2016 – No dia 6 de novembro de 2015, conhecemos a primeira-dama do Quênia, Margareth Kenyatta, uma incansável defensora das mulheres, meninas e crianças, durante o lançamento de uma campanha do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), no condado de Mandera, nordeste deste país africano.

A campanha Beyond Zero (Além do Zero), que oferece atenção pré-natal e pós-parto às mulheres e aos seus filhos, foi apresentada no condado porque para muitos Mandera é “o pior lugar do mundo para se dar à luz”. A taxa de mortalidade da região chega a 3.795 mortes para cada cem mil nascidos vivos, quase o dobro das duas mil mortes de mulheres durante o parto ou a gravidez que ocorriam em Serra Leoa durante sua guerra civil (1991-2002).

Dois de cada três casos de mortes maternas acontecem em regiões afetadas por uma crise humanitária ou em condições voláteis, como o nordeste do Quênia, onde são registradas 60% das mortes maternas no país. Estes péssimos indicadores de saúde se devem à educação deficiente, ao escasso uso de anticoncepcionais, casamentos tradicionais que tendem a minar a autodeterminação das mulheres, e insuficientes serviços de saúde.

Nos demos conta de que quase todos os nascimentos na região dependem do acaso, uma questão de sorte que as comunidades locais enfrentam com estoicismo, mas uma situação que as agências de desenvolvimento estão cada vez mais decididas a não aceitar.

Há pouco mais de um ano o UNFPA trabalhou com Unicef, Organização Mundial da Saúde, Banco Mundial, ONU Mulheres e Onusida para encontrar formas não só de salvar vidas no parto, mas também para lidar com outros problemas relacionados com a saúde reprodutiva nos seis condados do Quênia com maior quantidade de mortes maternas.

A Dinamarca apoia os programas do UNFPA em todo o mundo e no Quênia esse apoio se expressa no Programa Nacional 2016-2020, empreendido pelos dois governos e que busca impulsionar o plano Visão 2030 deste país. Quanto à saúde, o programa identifica especificamente o apoio operacional aos centros sanitários de atenção primária em nível do condado e do governo nacional, assim como o apoio à saúde e aos direitos sexuais e reprodutivos.

O governo dinamarquês se compromete a apoiar o UNFPA em seu trabalho em curso nos condados de Mandera, Marsabit, Wajir, Isiolo, Lamu e Migori, para cumprir um pacote integral de serviços de saúde reprodutiva, materna, neonatal, infantil e adolescente. A Dinamarca prometeu US$ 6 milhões para ajudar esses condados a dar maior atenção às adolescentes e mulheres jovens, mediante intervenções específicas e baseadas na evidência em numerosos setores. De especial interesse são os fatores que motivam a atividade sexual precoce das e dos adolescentes, a maternidade e o casamento precoces, bem como a escolarização das meninas.

Em uma demonstração da maneira como se pode fazer uma boa colaboração no trabalho de desenvolvimento, vários sócios do setor privado se somaram a esses esforços nos seis condados, que já apresentam resultados positivos. Há razões para ser otimistas e ampliar a oferta de serviços de qualidade, inovar para realizar intervenções acessíveis em matéria de planejamento familiar, e proporcionar atenção obstétrica de emergência, bem como atenção neonatal e pós-parto.

Apesar de que é o que há para ser feito, essa associação não se rege pela moral, mas pela evidência concreta de que a redução das mortes maternas e de recém-nascidos é o investimento mais inteligente para mudar o destino das economias pobres. Nossas observações confirmam que não faltam operações complexas para incidir de maneira efetiva. Intervenções simples, como garantir que mais mulheres deem à luz com a ajuda de assistentes qualificados, aumentam consideravelmente a possibilidade de sobrevivência de mãe e filho.

Trata-se de convencer as comunidades a deixarem de lado práticas como casamento precoce e outras que ocorrem invariavelmente sem o consentimento das meninas, privando-as de sua infância, obrigando-as a deixar a escola, prendendo-as na pobreza e colocando-as em maior risco de gravidez e partos potencialmente perigosos.

Trata-se de empoderar as mulheres para que possam planejar se querem ter filhos e quando, dando a elas melhor oportunidade para terminar os estudos, aumentar a capacidade de renda e reduzir a pobreza. Também se trata de aproveitar os recursos locais, em colaboração com as estruturas com as quais as comunidades locais se sentem cômodas.

No condado de Wajir, por exemplo, foram capacitados voluntários de saúde comunitária para identificar as mulheres grávidas em grupos de dez mil pessoas, a fim de vinculá-las aos centros sanitários locais para que recebam atenção pré-natal. As e os voluntários dão educação em saúde às mulheres grávidas sobre a importância da atenção pré-natal e de reconhecer os sinais de perigo durante a gravidez, o parto e o pós-parto. E aumentaram os partos feitos com atenção especializada, com assistência do plano de atenção gratuita à maternidade do Estado queniano.

As estatísticas mundiais indicam que os mais beneficiados pela redução da gravidez não desejada serão os países mais pobres, que teriam crescimento de 1% a 8% do produto interno bruto até 2035. Há poucas intervenções que apresentam esse tipo de repercussão. Entretanto, assim como estamos seguros dos passos necessários para avançar, se trata de uma janela que não estará aberta para sempre. A urgência do momento não poderia ser maior. Envolverde/IPS

* Mette Knudsen é embaixadora da Dinamarca no Quênia. Siddharth Chatterjee é representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Quênia.