Internacional

Igualdade de gênero avança lentamente

Mulheres ativistas contrárias a um novo projeto de Constituição que agravaria a desigualdade de gênero. Foto: Post Bahadur Basnet
Mulheres ativistas contrárias a um novo projeto de Constituição que agravaria a desigualdade de gênero. Foto: Post Bahadur Basnet

Por Tharanga Yakupitiyage, da IPS – 

Nações Unidas, 23/10/2015 – Apesar de o status das mulheres ter melhorado em muitos aspectos nos últimos 20 anos, o avanço ainda é lento, segundo o documento As Mulheres no Mundo, do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (Desa) da Secretaria da Organização das Nações Unidas (ONU). Em sua sexta edição, o informe que examina o status de mulheres e homens no mundo coincidiu com o 20º aniversário da histórica Declaração e Plataforma de Ação de Pequim. Em particular, as melhoras foram registradas na expectativa de vida, mortalidade materna e educação.

A expectativa de vida aumentou cinco anos e as mulheres vivem, em média, até os 72 anos, e os homens até os 68. Isso se deve, em parte, à redução da mortalidade materna, que entre 1990 e 2013 diminuiu 45%. A brecha de gênero na educação também diminuiu, pois a participação, tanto de meninos como de meninas, aumentou em todos os níveis de ensino. Mas há profundas desigualdades, que constituem um desafio para o futuro.

Por exemplo, as jovens e as adolescentes são desproporcionalmente mais vulneráveis e correm maior risco de contrair o vírus HIV (causador da aids). Segundo a Onusida, 15% das mulheres soropositivas maiores de 15 anos estão na faixa etária que vai dos 15 aos 24 anos, e 80% delas vivem na África subsaariana. “Isso ocorre porque não só os sistemas de saúde estão pouco desenvolvidos como também são incapazes de atender as necessidades das mulheres, bem como questões de gênero”, afirma o documento, apresentado no dia 20.

Entre as questões de gênero desatendidas destacam-se o deficiente acesso à educação, o casamento precoce, a falta de poder de decisão e a violência contra as mulheres. Apesar do progresso na matrícula escolar, há 58 milhões de meninas e meninos fora da escola, e mais da metade é de meninas.

Entrevista coletiva sobre o documento As Mulheres no Mundo 2015. Lenni Montiel (centro), subsecretário-geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais. Foto: Eskinder Debebe/ONU
Entrevista coletiva sobre o documento As Mulheres no Mundo 2015. Lenni Montiel (centro), subsecretário-geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais. Foto: Eskinder Debebe/ONU

Além disso, o informe destaca a elevada prevalência do casamento infantil. Em 2010, cerca de 26% das mulheres entre 20 e 24 anos haviam se casado antes dos 18, apenas 5% menos do que em 1995. Essas proporções aumentam na Ásia meridional e África subsaariana. Na Ásia meridional e na África subsaariana, 44% das mulheres entre 20 e 24 anos havia se casado antes dos 18.

O casamento infantil não é apenas uma violação dos direitos humanos, mas aumenta a exposição das mulheres e meninas ao risco de sofrer violência doméstica, destaca o informe. O Desa ressalta que a violência contra as mulheres continua sendo um “motivo real de preocupação mundial”, pois uma em cada quatro mulheres sofreu violência física e/ou sexual e 60% das vítimas não denunciaram o ataque nem procuraram ajuda.

Além disso, as mulheres que sofreram violência por parte de seu companheiro têm 50% mais probabilidades de viver com HIV do que as que não passaram por essa experiência.

Diante dessas desoladoras estatísticas, o informe destaca a crescente disponibilidade de dados em matéria de gênero, que são essenciais para compreender as tendências em escala mundial. “Antes do primeiro informe não havia nada parecido com estatísticas de gênero no mundo”, recordou o subsecretário-geral adjunto do Desa para o desenvolvimento econômico, Lenni Montiel, em entrevista coletiva por ocasião da apresentação do informe deste ano.

O lançamento também coincidiu com o Dia Mundial da Estatística, comemorado também no dia 20 sob o lema Melhores Dados, Melhores Vidas. Segundo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, “os bons dados e as boas estatísticas são indispensáveis para que os atores da sociedade possam tomar decisões de maneira informada. Devemos garantir que se considere todo o mundo, especialmente os mais pobres e vulneráveis”.

Porém, ainda há países que falham na coleta de dados. A diretora da seção de Estatísticas Sociais e de Moradia do Desa, Francesca Grum, revelou que não havia dados disponíveis referentes ao Oriente Médio sobre a magnitude da violência machista. “Medir a violência contra as mulheres é relativamente novo. Só agora trabalhamos com os países para garantirmos que adotem medidas padronizadas”, destacou Grum, uma das autoras do informe.

Desde 1990, as sucessivas edições de As Mulheres no Mundo se concentram em oito aspectos primordiais: população e família, saúde, educação, trabalho, poder e tomada de decisões, violência contra as mulheres, ambiente, e pobreza. Envolverde/IPS