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Ferramentas da Jamaica para prever secas

Mapa do Serviço Meteorológico da Jamaica com as secas previstas até o próximo mês. Foto: jamaicaclimate.net
Mapa do Serviço Meteorológico da Jamaica com as secas previstas até o próximo mês. Foto: jamaicaclimate.net

Por ZadieNeufville, da IPS – 

Kingston, Jamaica, 14/1/2016 – Em novembro de 2013, o Serviço Meteorológico da Jamaica fez seu primeiro prognóstico oficial de seca, mediante a nova Ferramenta de Previsibilidade do Clima (HPC), que apresentou uma alta probabilidade de chuva inferior à média no trimestre seguinte. As previsões subsequentes indicaram que as condições de seca continuariam pelo menos até setembro de 2014.

A seca daquele ano foi a pior em três décadas. Os distritos orientais da Jamaica tiveram uma média de precipitações entre 2% e 12% dos níveis normais. A produção agrícola nesse período caiu mais de 30% e estima-se que as perdas devidas às más colheitas e aos incêndios florestais chegaram a US$ 1 bilhão.O setor agrícola jamaicano representa aproximadamente 7% de seu produto interno bruto e emprega 20% de sua força de trabalho.

“A HPC foi a principal ferramenta utilizada por nosso ministro (de Água, Terra, Ambiente e Mudança Climática), Robert Pickersgill, ao longo de 2015 para assessorar a nação sobre a situação da seca em toda a ilha”, afirmou à IPS Glenroy Brown, do Serviço Meteorológico. A Comissão Nacional de Água também utilizou a HPC para aplicar restrições ao uso da água na ilha.

Brown desenhou e implantou a ferramenta em colaboração com Simon Mason, um especialista em clima do Instituto Internacional de Pesquisa para o Clima e a Sociedade, da norte-americana Universidade de Colúmbia, com fundos da Agência dos Estados Unidos parao Desenvolvimento Internacional (Usaid).

Segundo Brown, “a ferramenta proporciona um pacote de Windows para a construção de um modelo de previsão da seca estacional que produz prognósticos com dados atualizados sobre as precipitações e a temperatura superficial do mar”. A inovação foi um dos primeiros passos  na construção da capacidade de resiliência da Jamaica dentro de sua política nacional climática, e fornece prognósticos sobre as secas que permitem aos agricultores planejar seu plantio, acrescentou.

A ferramenta combina uma série de aplicações, incluindo Google Earth e mapas GIS localizados, para gerar prognósticos para uma cinco dias de duração, que são específicos para o país e suas localidades. A informação é desagregada e simplificada ainda mais mediante informação codificada por cores e mensagens de texto para os usuários que não são muito conhecedores da tecnologia.

A ferramenta desenhada por Brown e Mason também incorpora a própria HPC – desenhada por Mason e que já era empregada por países do Caribe com serviços meteorológicos pequenos e recursos limitados – para produzir suas próprias previsões climáticas.

A nova ferramenta combinou os dados sobre precipitações e previsões recentes para oferecer um prognóstico que se concentrasse especificamente na seca. “Para nós era importante desenha um sistema que abordasse as necessidades da Jamaica, mas que também fosse apto para o resto da região”, disse Mason.

Os dois cientistas explicaram que “devido ao impacto de uma seca se basear na duração da precipitação” e não apenas na quantidade de chuva, a previsão não basta para prever as secas devido a fatores relacionados com o acúmulo e a intensificação.

“O que fazemos é apresentar um prognóstico de chuva padrão de três meses de duração no contexto de medições de precipitações recentes”, afirmou Mason à publicação Frontlines, da Usaid, em maio. Se for registrada chuva abaixo do normal durante um período não usual árido isso indica que haverá uma “seca bastante grave” no futuro, acrescentou.

Sheldon Scott, da Autoridade de Desenvolvimento Agrícola rural da Jamaica (Rada), disse à IPS que os agricultores que utilizaram a informação recebida por mensagem de texto em seus celulares conseguiram evitar os piores efeitos da seca. “Os que utilizaram a informação puderam manejar os fatores atenuantes de maneira mais eficaz”, assegurou.

No período em questão, mais de 500 agricultores receberam alertas por mensagem de texto e foram enviados cerca de 700 mil boletins aos funcionários de extensão agrícola.

MelonieRisden é uma agricultora que se inscreveu para receber o serviço de mensagens de texto. “A informação que recebemos do escritório de meteorologia nos deu previsões de seca em termos de probabilidades. Decidimos plantar de todo modo porque tínhamos a sorte de ter acesso ao rio e pudemos encher barris de água antes da seca”, contou à Frontlines.

Risden perdeu o milho que plantou em sua propriedade de cinco hectares na localidade de Crooked River, em um dos distritos mais afetados pela seca já que somente recebeu 2% da precipitação normal, mas pôde salvar a maior parte de suas ervilhas, vagem e pimentão.

Seis meses depois que o Serviço Meteorológico jamaicano divulgou seu prognóstico inovador, o Instituto de Meteorologia e Hidrologia do Caribe (CIMH) apresentou a primeira análise de seca para a região no Fórum Regional de Perspectivas Climáticas do Caribe, realizado em Kingston. Agora, 23 países do Caribe e da América Central utilizam a ferramenta para fomentar a resiliência diante da mudança climática e se informar melhor na hora de tomar decisões.

“Em nível regional a ferramenta agora é um acessório padrão em vários países da região, entre eles Cuba, República Dominicana e Haiti. Este esforço regional é coordenado pelo CIMH”, disse Brown.

Segundo JefferySpooner, diretor do Serviço Meteorológico da Jamaica, a ferramenta “mudou as regras do jogo” na luta climática porque é “muito importante no prognóstico da mudança climática e especificamente para os setores agrícolas – incluída a pesca – e da água com relação à projeção de chuva”.

Agora o HPC também é usado para os boletins mensais publicados pelo Serviço Meteorológico em sua página na Internet.

Como a maioria das pequenas explorações agrícolas da ilha dependem das chuvas, mais agricultores utilizam a informação para administrar melhor o uso da água e orientar suas atividades, disse Scott.

Cientistas locais e internacionais atribuíram ao aquecimento global e à mudança climática as condições atmosféricas extremas vinculadas às secas que afetam a Jamaica e a região com sistemas de alta pressão persistente que impedem a formação de ciclones tropicais.

O setor agrícola ainda sofre o impacto da seca e espera-se que os problemas aumentem com a evolução da mudança climática. Envolverde/IPS