Internacional

Escolas para refugiados palestinos

Duas estudantes brincam em Gaza. Dezenas de crianças e refugiados palestinos dependem da comunidade internacional para terem suas necessidades de educação atendidas. Foto: Mohammed Omer/IPS
Duas estudantes brincam em Gaza. Dezenas de crianças e refugiados palestinos dependem da comunidade internacional para terem suas necessidades de educação atendidas. Foto: Mohammed Omer/IPS

Por Kanya D’Almeida, da IPS – 

Nações Unidas, 21/8/2015 – Enquanto tenta superar uma séria falta de fundos, e presa entre numerosos conflitos regionais, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA) anunciou que, de todo modo, abrirá escolas a tempo para meio milhão de crianças cuja educação depende da comunidade internacional.

Em comunicado divulgado no dia 19, a UNRWA promete iniciar o ano escolar segundo o previsto, entre 24 deste mês e 13 de setembro, permitindo, assim, que cerca de 500 mil crianças voltem às aulas na Palestina, Jordânia, Líbano e Síria.

Criada em 1949 para abordar as necessidades de cinco milhões de refugiados palestinos, a UNRWA administra 685 escolas em Gaza, na Cisjordânia e nos países árabes vizinhos. “É nos bancos escolares da UNRWA que milhões de refugiados palestinos, privados por tanto tempo de uma solução justa e duradoura, construíram as capacidades e deram forma à determinação que lhes permitiu se tornarem atores de seus próprios destinos”, afirmou a agência em seu comunicado.

Durante meses, tanto a UNRWA quanto o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, enfatizaram a importância de uma escolaridade interrompida para os refugiados palestinos, e alertaram para os riscos de que se esqueça toda uma geração de crianças.

Felicitando a UNRWA por seus incansáveis esforços, Ban afirmou em um comunicado, também no dia 19, que “esse êxito não pode ser subestimado em um momento de crescente extremismo, em uma das regiões mais instáveis do mundo. Para os refugiados palestinos, “a educação é um passaporte para a dignidade, e devemos apoiá-los” e à UNRWA”.

O secretário-geral agradeceu aos Estados membros por suas contribuições para os cofres da agência, que inclui US$ 19 milhões por parte da Arábia Saudita, enquanto Kuwait, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos entregaram US$ 15 milhões cada um. Até agora, a agência recebeu contribuições equivalentes a US$ 74,9 bilhões, ou seja, pouco mais de 75% do déficit que deve ser coberto. O dinheiro será destinado ao cumprimento do mandato da UNRWA de dar atenção à saúde, alívio e serviços sociais, melhorias nos acampamentos e educação.

Inúmeros obstáculos se interpõem entre as crianças palestinas e as salas de aula. Ao documentar alguns desses desafios, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) relaciona estes temas como incursões militares, demolições de escolas, restrições ao movimento ou acesso limitado a locais escolares e danos e destruição em escolas.

Um informe apresentado em 2013 pelo Unicef, intitulado A Educação sob a Ocupação, revela que a Administração Civil Israelense estende ordens de demolição ou de deixar de funcionar, tanto verbais quanto escritas, para 38 escolas que cobrem cerca de três mil crianças na Área C da Cisjordânia e em Jerusalém oriental. No período 2011-2012, o Unicef registrou 63 instâncias “de negação de acesso” à educação nos territórios ocupados, que afetaram cerca de 34 mil estudantes palestinos.

Durante o conflito de sete semanas em Gaza, há um ano, aproximadamente 327 escolas foram parcial ou totalmente arrasadas, segundo uma atualização do Unicef deste ano, impedindo o acesso de milhares de crianças a seu único entorno protetor. A situação é ainda mais precária para os refugiados palestinos, que frequentemente estão mais perto da primeira linha do conflito e, portanto, enfrentam maiores riscos em sua busca por uma educação decente.

Por exemplo, no sitiado acampamento de refugiados de Yarmouk, na Síria, onde se estima que vivem 16 mil palestinos, as 28 escolas foram fechadas, e as únicas oportunidades de educação existentes são aulas informais dadas por professores voluntários em dez “espaços seguros”, segundo o jornal britânico The Guardian. Envolverde/IPS