Internacional

A terrível crise dos filhos do álcool

Um homem sentado em sua cozinha improvisada na aldeia de Dharmapuram, no Sri Lanka, após voltar para casa alcoolizado. Foto: AmanthaPerera/IPS
Um homem sentado em sua cozinha improvisada na aldeia de Dharmapuram, no Sri Lanka, após voltar para casa alcoolizado. Foto: AmanthaPerera/IPS

Por Deisi N. W. Kusztra e Kristina Sperkova*

Nova York, Estados Unidos, 24/3/2015 – As meninas e os meninos filhos do álcool são vítimas esquecidas de pais que têm problemas com o vício. Na maioria das vezes, permanecem invisíveis e sozinhos, descuidados pelos mais velhos, desatendidos pelos professores e desvalorizados ou ignorados por governos e autoridades.Entretanto, os filhos de alcoólatras constituem um grupo numericamente significativo, segundo os últimos dados disponíveis.

*Na Austrália, um milhão de menores de idade vivem em lares com pelos menos um adulto alcoólico.

*Nos Estados Unidos, as mães condenadas por abuso infantil têm três vezes mais probabilidades de terem o vício do álcool, e os pais dez vezes mais. Mais da metade de todas as denúncias de abuso confirmadas, e 75% das mortes de crianças, está relacionada com alcoolismo ou abuso de outras drogas por parte de seus pais.

*Na União Europeia, há pelo menos nove milhões de crianças e jovens que são criados por pais alcoólatras.

*A pesquisa da Nacoa Grã-Bretanha estima que só nesse país existam 2,6 milhões de estudantes vivendo em lares cujos pais têm problemas com álcool.

O número de meninos e meninas que vivem em famílias devastadas pelo alcoolismo dispara, considerando que há países que nem mesmo estudam esse assunto.As crianças criadas com pais que têm que lidar com problemas de abuso constituem uma crise de direitos humanos de enormes proporções. Os filhos do álcool ficam expostos aos seguintes riscos:

  • têm cinco vezes mais probabilidades de desenvolver desordens alimentares;
  • três vezes mais probabilidades de cometer suicídio;
  • quase quatro vezes mais probabilidades de sofrer algum tipo de abuso de álcool em sua vida.

Quando nos referimos aos filhos do álcool observamos sete aspectos que representam o grau de severidade da crise de direitos humanos.

1- O estigma social, os estereótipos e o tabu associado a estar vinculado ao alcoolismo e a viver com pais com problemas de abuso.

2- A incapacidade das autoridades identificarem os filhos de alcoólatras, por exemplo, nas escolas.

3- Os governos locais e nacionais falham na hora de implantar serviços efetivos e suficientes para estes menores vulneráveis e marginalizados.

4- Os governos locais e nacionais falham na hora de colocar à disposição dos pais com problemas de álcool algum tratamento, como programas de ajuda familiar.

5- A incapacidade da sociedade para prevenir e reduzir o dano do álcool em geral.

6- A falta de um ambiente habilitante e seguro para que as crianças cresçam.

7- Os problemas dos governos para implantar o princípio do “interesse superior da criança”, consagrado no artigo 3 da Convenção dos Direitos da Infância.

Todos esses elementos são interdependentes. Sua ausência do debate e dos processos de elaboração de políticas prejudica as filhas e os filhos de alcoólatras. Na verdade, agravam a crise e impede os menores de gozarem seus direitos previstos na convenção, como por exemplo:

– à proteção da família;

– à seguridade social e à realização de seus direitos econômicos, sociais e culturais;

– a um padrão de vida condizente com a saúde e o bem-estar;

– a receber assistência e cuidado especial para a maternidade e a infância.

Tendo em mente a amplitude do problema, a gravidade e o impacto não só no presente mas também no futuro, acreditamos que é importante compreender que o desenvolvimento sustentável e a Agenda 2030 não serão alcançados sem esforços gerais para ajudar e apoiar os filhos de alcoólatras e sem que asseguremos que haja menos menores nessa situação a cada ano.

O fato de centenas de milhões de meninos e meninas crescerem expostos à negligência e ao abuso por problemas de alcoolismo de seus pais é uma questão de direitos da infância, de saúde pública, de desenvolvimento social, de erradicação da pobreza e de desenvolvimento sustentável.Esse é um assunto complexo que exige atenção urgente. Às vezes, em especial em países de renda baixa e média, é uma questão de vida ou morte.

Com esse espírito, pedimos ao Conselho Econômico e Social, à Organização Mundial da Saúde, ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, ao Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais e também ao Fundo das Nações Unidas para a Infância, que coloquem os filhos dos alcoólatras em sua agenda.

Mediante as sinergias da colaboração que habilitaram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a Agenda 2030, pedimos ao sistema das Nações Unidas urgência para que exerça sua liderança e analise estratégias para atender e melhorar a situação de milhões de crianças em todo o mundo. Envolverde/IPS

*Deisi N. W. Kusztraé presidente da Organização Mundial da Família.KristinaSperkova preside a IOGT International (Organização Internacional de Bons Templários).