Ambiente

Os efeitos da acidificação dos oceanos

Coleta de amostras de meiofauna no Recife de Fora. Foto: Coral Vivo
Coleta de amostras de meiofauna no Recife de Fora. Foto: Coral Vivo

Uma pesquisa que acaba de ser publicada na revista científica Coral Reefs, da Editora Springer, avaliou como será a elevação dos níveis de acidez sobre a meiofauna do Parque Municipal Marinho do Recife de Fora, em Porto Seguro (BA).

Ela é composta por alta diversidade de animais marinhos, como crustáceos, poliquetas, tardigrádos e moluscos que medem menos de 1 milímetro e ocorrem em abundância associados às algas ou sedimentos. Tem papel importante na cadeia alimentar e apresenta rápida resposta às mudanças no ambiente.

Para simular as previsões de acidificação seguindo os relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas), os pesquisadores utilizaram o mesocosmo marinho do projeto Coral Vivo – um sistema experimental com dezesseis tanques que recebem continuamente a água de um recife de coral.

Foram coletadas 36 amostras de uma comunidade de meiofauna do Recife de Fora, que foram distribuídas nesses tanques e expostas aos tratamentos de acidificação por 15 e 30 dias. Atualmente, o pH dos oceanos está em torno de 8.1, e o experimento reduziu o pH da água do mar em 0.3, 0.6 e 0.9, por meio de injeção de gás carbônico de forma controlada.

Foram contabilizados 20.371 organismos da meiofauna nesse estudo. Como o ciclo de vida deles é curto, os pesquisadores puderam observar também os efeitos da acidificação nos descendentes gerados durante o experimento. Apesar de os indivíduos adultos de algumas espécies de poliquetas e crustáceos não sofrerem fortes impactos, os juvenis tiveram alta mortalidade associada à redução do pH.

Mudanças importantes

“Percebemos que os organismos adultos parecem conseguir lidar mais facilmente com a acidificação. Entretanto, futuramente, poderá haver uma mudança na dinâmica dessas populações porque a fisiologia dos juvenis é muito mais sensível”, explica a bióloga Visnu Sarmento, doutoranda da Universidade Federal de Pernambuco, e membro da Rede de Pesquisas Coral Vivo.

De acordo com os pesquisadores, os resultados desse experimento no mesocosmo corroboram sugestões anteriores de que a acidificação dos oceanos induz mudanças importantes nas comunidades do fundo do mar. “Considerando a importância da meiofauna na cadeia alimentar nos ecossistemas de recifes de coral, os resultados apresentados por esse estudo demonstram que o funcionamento desses ambientes está seriamente ameaçado pela acidificação dos oceanos”, avalia Visnu.

Problema intensificado

Cabe destacar que os organismos da meiofauna consomem microalgas e bactérias, por exemplo, e, por sua vez, servem de alimento para animais maiores, como peixes e camarões, por exemplo.

Aproximadamente, 30% de todo CO₂ emitido para a atmosfera pelas atividades humanas têm sido absorvido pelos oceanos. A pesquisadora Visnu Sarmento destaca que essa captação de CO₂ ajuda a moderar as mudanças climáticas, porém, quando o dióxido de carbono dissolve-se no oceano, reduz o pH e causa mudanças na bioquímica do oceano. Essa mudança, frequentemente chamada de acidificação dos oceanos, já está ocorrendo e é esperado que se intensifique no futuro.

Sobre o Projeto Coral Vivo

O Projeto Coral Vivo é patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Ele faz parte da Rede Biomar, junto com os projetos Albatroz, Baleia Jubarte, Golfinho Rotador e Tamar. Todos patrocinados pela Petrobras, eles atuam de forma complementar na conservação da biodiversidade marinha do Brasil, trabalhando nas áreas de proteção e pesquisa das espécies e dos habitats relacionados. As ações do Coral Vivo são viabilizadas também pelo copatrocínio do Arraial d’Ajuda Eco Parque, e realizadas pela Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN) e pelo Instituto Coral Vivo (ICV). Mais informações na página www.facebook.com/CoralVivo e no site www.coralvivo.org.br. (Coral Vivo/ #Envolverde)