Sociedade

Geração Y: engajada no debate dos problemas urbanos

Por Katherine Rivas, da Envolverde

Jovens de 50 municípios brasileiros manifestam preocupação pelas desigualdades sociais

“Quando penso nas cidades brasileiras penso em desigualdade social, sem acesso igualitário a saúde e com muitos problemas de trânsito”. É assim que a estudante de Ciências Humanas, Joyce Voltolini, enxerga as problemáticas urbanas. Com 21 anos de idade, a moça faz parte do grupo de 502 jovens engajados com as temáticas de direito à cidade e ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) que participaram da terceira edição do Youth Speak Fórum, evento que reúne anualmente jovens entre 18 e 30 anos para debater sobre problemáticas urbanas, entender melhor os conceitos de sustentabilidade e contribuir com projetos diversos.

Este ano, o Fórum reuniu jovens de 50 municípios brasileiros, membros do AIESEC e ativistas de movimentos socioambientais. Para a organização do Youth Speak, a geração Y está alavancando um movimento de transformação na procura constante do debate e a criação estratégias colaborativas para resgatar o meio ambiente.

Iago Hairon, do movimento Engajamundo, organização de liderança jovem e participação nas decisões internacionais, acredita que hoje existem jovens engajados em múltiplas temáticas, desde mudanças climáticas e mobilidade urbana até questões de gênero e igualdade. “Quando as pessoas falam que não existe jovem engajado eu penso como é possível afirmar isso. Eu vejo muitos deles preocupados. O problema que ás vezes acabamos nos perdendo na interseção dessas lutas”,afirma.

Foto: Shutterstock

Cidadãos sem cidade

Entre as temáticas que mais concentram os esforços dos jovens está o direito à cidade. Segundo os especialistas da ONU, os centros urbanos da América Latina hoje são cidades sem cidadão e cidadãos sem cidades. De acordo com o décimo-primeiro objetivo da ONU, em relação ao Desenvolvimento Sustentável, até 2030 as cidades devem se tornar assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis, com urbanização de favelas e respeito ao patrimônio cultural e natural do mundo.

No entanto, a realidade é um pouco contrastante. Só no Brasil, segundo censo do IBGE (2010), existe cerca de 11 milhões de pessoas vivendo em favelas- equivalente a população do país vizinho Chile- em consequência moradores que não tem acesso a serviços básicos, habitação digna e que são excluídos de muitas oportunidades por não conseguir comprovar sua residência.

Para Bruno Dias, Diretor Social do Teto Brasil, organização que trabalha mobilizando jovens voluntários na defesa dos direitos dos moradores de favelas mais precárias, os jovens hoje têm consciência do que é uma cidade ideal para viver, porém existem situações que os impedem de garantir essa consciência de cidade. “É muito difícil falar para alguém não jogar lixo na favela quando lá não existe um sistema de reciclagem de resíduos. Falar de sustentabilidade fica complexo quando a própria cidade não gera infraestrutura suficiente para garantir isso”, explica.

Na visão de Dias, as cidades são reflexo de como se reproduz a economia, no cenário coletivo um paradigma de desenvolvimento. No entanto, para garantir o direito à cidade é preciso que a sociedade realize um trabalho conjunto entre poder público, população e instituições. “Precisamos articular todos os setores da sociedade para garantir diretrizes como a questão de transporte e habitação, sem investimento pesado do governo é difícil que isso aconteça”. comenta o diretor.

Ele cita como exemplo a cidade de São Paulo, a qual define como uma cidade com dois mundos onde o bairro nobre da Vila Olímpia está só a 23km da favela Morumbizinho, é dizer uma mesma cidade com duas realidades contrastantes.

Para Marina Martinho (19) estudante de Direito e moradora de Cuiabá (MG), as cidades brasileiras precisam ser mais empáticas e humanas para evoluir. Daniela Rubbi (19), moradora de São Paulo, concorda com Marina e manifesta que na metrópole não existe respeito nem empatia e sim um padrão acelerado de competividade.

Diretor Social do Teto Brasil apresenta problemática urbana da favela Morumbizinho. Foto: Katherine Rivas

 

O novo olhar

Segundo Aron Belinky, do Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, hoje há muito espaço para os jovens que querem se engajar com o desenvolvimento sustentável, no entanto é importante considerar a necessidade de trabalhar a agenda dos ODS de forma integrada com cooperação e projetos para fazer acontecer. “Precisamos pensar nas ODS de forma diferente e integrada e educar gestores no setor público e privado, unificando o talento dos jovens”, defende.

Iago Hairon, do Engajamundo considera que o novo olhar da sustentabilidade está na mudança comportamental como impulsionador de transformação. “O problema é sistêmico, então se a gente muda o sistema vamos mudar pessoas. Na última década, 18 milhões de mulheres foram refugiadas climáticas, uma questão de género e meio ambiente, tudo está interligado”, diz.

Para os especialistas a transformação dos jovens vai desde a alimentação até as atitudes diárias como demonstrações de empatia pelo outro, dar a sustentabilidade um valor pessoal. Só no direito à cidade, atualmente são mais de 30 mil jovens voluntários que participam do Teto no Brasil. Até março de 2017 um milhão de pessoas será mobilizada em América Latina. (#Envolverde)