Política Pública

Energia das ondas nas ilhas do Pacífico

A equipe de pesquisa da energia marinha, que inclui Rafiuddin Ahmed, da Universidade do Pacífico Sul em Fiji, utiliza boias para investigar a atividade das ondas e seu potencial energético na região. Foto: Rafiuddin Ahmed
A equipe de pesquisa da energia marinha, que inclui Rafiuddin Ahmed, da Universidade do Pacífico Sul em Fiji, utiliza boias para investigar a atividade das ondas e seu potencial energético na região. Foto: Rafiuddin Ahmed

Por Catherine Wilson, da IPS –

Canberra, Austrália, 6/10/2016 – As ondas são onipresentes nos mais de 20 Estados insulares espalhados por 165 milhões de quilômetros quadrados no Oceano Pacífico. Mas, somente esse ano, após um estudo pioneiro realizado por oceanógrafos, se começou a considerá-las como uma fonte economicamente viável de energia renovável na região.

O informe sobre os custos da energia das ondas, publicado pela Comunidade do Pacífico (SPC) – principal organização científica e técnica da região – é importante porque, pela primeira vez, são analisados os custos da compra, instalação, operação e manutenção de dispositivos desse tipo de energia na área. O estudo conclui que “os custos de geração de energia a partir das ondas se equiparam aos de outras energias renováveis, como eólica e solar”.

Rafiuddin Ahmed, do Grupo de Energia Renovável da Universidade do Pacífico Sul (USP), com sede em Fiji, concorda que o oceano é uma alternativa energética importante, já que o “custo da geração de eletricidade nos países insulares do Pacífico atualmente é muito alto, considerando que a maioria é dependente dos combustíveis fósseis importados”.

Nas Ilhas Cook e em Tonga, por exemplo, o petróleo importado representa cerca de 90% e 75% do fornecimento nacional de energia, respectivamente, enquanto as importações de combustíveis fósseis equivalem a 10% do produto interno bruto da região.Entretanto, hoje apenas 20% dos mais de dez milhões de pessoas da região têm acesso a eletricidade.

A falta de acesso aos serviços básicos é uma constante na maioria dos 14 países do Fórum das Ilhas do Pacífico, que não alcançaram o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio número 1, sobre erradicar a pobreza até 2015. Segundo os especialistas, a confiabilidade da energia extraída do oceano (a maremotriz, gerada pelas marés, e a ondomotriz, gerada exclusivamente pelas ondas) faz com que seja uma boa opção para o desenvolvimento sustentável.

“A energia das ondas está disponível 90% do tempo em um determinado local, em comparação com as energias solar e eólica, que estão disponíveis entre 20% e 30% do tempo. O fluxo de energia das ondas é até cinco vezes superior em comparação com o vento que gera as ondas, o que faz a energia destas ser mais persistente do que a eólica”, afirmou Ahmed à IPS.As ondas se formam quando o vento, na medida em que atravessa o oceano, transfere energia para a água.

Porém, as condições do mar variam ao longo do Pacífico e os locais ótimos para obter energia das ondas, segundo o informe, ficam ao sul dos 20 graus de latitude sul. Especificamente, Polinésia Francesa, Tonga, Ilhas Cook e Nova Caledônia se beneficiam da exposição às ondas desse oceano. O estudo da SPC analisou os custos que implica o uso de um conversor Pelami de energia das ondas, que normalmente é instalado a entre dois e dez quilômetros da costa e pode atender a demanda anual de eletricidade de aproximadamente 500 moradias.

O custo da geração desse tipo de energia é calculado entre US$ 209 e US$ 467 por megawatt/hora (MWh) na ilha de Eua, Tonga, e entre US$ 282 e US$ 629 por MWh no sul de Rarotonga, Ilhas Cook. Em comparação, o custo de geração da energia solar e diesel pode chegar a US$ 700 por MWh e US$ 500 por MWh nos dois lugares, respectivamente.

Devido à grande quantidade de ilhéus que vivem ao longo da costa e à necessidade de geração de energia independente nas comunidades rurais, onde o déficit energético é maior, “a energia das ondas é, sem dúvida, um dos candidatos fortes para o abastecimento das ilhas remotas”, destacou Ahmed. Em Nova Caledônia e Fiji somente 45,5% da população rural tem energia elétrica, proporção que cai para 17,8% em Vanuatu e 12,6% nas Ilhas Salomão.

Entretanto, o professor adjunto Anirudh Singh, da Faculdade de Engenharia e Física da USP, que também participa do Projeto Rede de Transferência de Conhecimento e Tecnologia sobre Energia Renovável nas Pequenas Ilhas em Desenvolvimento (Direkt), recomenda cautela sobre as conclusões do informe.

“A densidade da energia disponível nas ondas é, em geral, bastante baixa no Pacífico, em comparação, por exemplo, com os países do hemisfério norte. E, em segundo lugar, a tecnologia ainda não está devidamente provada no mercado”, pontuou Singh. Esse tipo de energia será adequado para as comunidades costeiras rurais, “uma vez a tecnologia do dispositivo único de energia das ondas esteja aperfeiçoado, mas isso levará algum tempo”, acrescentou.

O trabalho sobre a tecnologia da energia marinha começou na década de 1970, mas a maioria dos dispositivos ainda não conseguiu sua aplicação comercial, embora os protótipos estejam sendo testados em todo o mundo. O Pelamis, que pode produzir energia elétrica conectada à rede, é um dos dois dispositivos que estão prontos para comercialização, segundo o informe.

O equipamento de pesquisa da energia do oceano da USP também desenvolve conceitos novos, que inclui uma coluna retangular de água oscilante (OWC), que canaliza o fluxo bidirecional das ondas para as pás da turbina de vento Savonius. “Um dispositivo OWC pode ser construído localmente com materiais locais, menos a turbina. Seus custos de operação e manutenção também são baixos e tem uma vida muito longa. Sem dúvida poderá competir com outras fontes de energia renováveis em lugares de bom potencial”, afirmou Ahmed.

Será preciso superar numerosos obstáculos antes que o potencial energético do oceano se transforme em realidade, incluída a falta de experiência técnica local nas energias renováveis e conseguir o investimento do setor privado para a comercialização da tecnologia. Gerar confiança nos investidores, segundo o Banco Mundial, também exige clareza por parte dos governos da região sobre as opções de investimento, os planos de incentivos e os marcos políticos, legais e regulamentares associados. Envolverde/IPS