Sociedade

Educadores usam histórias e yoga para melhorar concentração das crianças

Projeto Yoga com Histórias valoriza a exploração do corpo e trabalha com narrativas lúdicas que envolvem as emoções

Por Marina Lopes, do Porvir –

O que as histórias têm a ver com o corpo? Para o professor João Soares e a pedagoga Rosa Muniz, a resposta é tudo. Juntos, eles criaram o projeto “Yoga com Histórias“, que tem o objetivo de proporcionar um desenvolvimento infantil mais saudável.

A ideia surgiu há mais de 22 anos, quando eles trabalhavam em um projeto da Fundação Casa, na época conhecida como Febem. A proposta era desenvolver atividades para crianças e adolescentes em situação de abandono social, violência e maus tratos. “Nós começamos a brincar de contar histórias e dar algumas posições do yoga para as crianças. Depois fizemos adaptações e passamos a incluir novos elementos”, recorda João, que já trazia experiências do teatro e também tinha praticado yoga.

De acordo com ele, a opção de associar narrativas lúdicas aos movimentos do yoga foi para justamente aproximar os pequenos desse universo. “Na minha opinião, uma aula tradicional não funcionaria com essa faixa etária. Com as histórias, conseguimos falar a língua do inconsciente das crianças e trabalhamos com questões simbólicas que envolvem os seus medos e emoções”, explica. Na visão do professor, os personagens presentes nas atividades ajudam meninos e meninas a projetarem seus sentimentos e se fortalecerem emocionalmente.

Durante as aulas, as histórias trabalham temas ligados a uma série de sentimentos, como medo, raiva e superação. “Nós tentamos trazer essa colocação do yoga, que olha para cada pessoa como um ser especial”, destaca. Ele conta que a proposta também busca estimular que as crianças desenvolvam generosidade e empatia. “Falamos muito dessas questões, mas sempre com bastante humor e de forma lúdica”, adverte.

Além do trabalho com as emoções, João destaca que a prática do yoga transforma a maneira de lidar com o corpo. “Com o passar do tempo, as crianças começam a perder a sua inteligência corporal. Elas param de subir em árvores, correr e brincar. Já não exploram mais todos os movimentos e possibilidades que o corpo oferece.” Segundo ele, essa perda também tem relação com o uso crescente de tecnologias, como tablets e celulares.

“O yoga é um espaço para as crianças explorarem o próprio corpo, e isso também está ligado ao modo como elas se relacionam com o mundo e aprendem”, avalia. Durante a prática, o professor diz que os pequenos melhoram a sua respiração e oxigenação cerebral, o que também ajuda a ampliar a concentração. Por esses e outros motivos, ele levanta a bandeira de que a prática deveria estar presente dentro do ambiente escolar. “É fundamental levar o yoga para dentro das escolas. Já está mais do que comprovado que o sistema atual não funciona.”

O primeiro argumento usado por ele para defender a inclusão do yoga na sala de aula é a forma como o espaço está organizado. “Uma criança não dá conta de ficar tanto tempo sentada em uma cadeira. Se ela não senta bem, os pulmões ficam comprimidos e não geram oxigenação adequada para o cérebro. Isso faz com que ela também não preste atenção.” Outra observação feita por ele é que as aulas deveriam oferecer um tempo de relaxamento, para os alunos assimilarem o que foi aprendido. “Poderíamos colocar três ou cinco minutos de intervalo com exercícios de respiração”, sugere.

Para espalhar essa mensagem, há anos o projeto “Yoga com Histórias” também tem se dedicado a desenvolver um curso de formação de educadores. Todo ano são criadas turmas que recebem professores de todo o país. Entre as aulas, são abordados temas como as fases do desenvolvimento infantil, psicomotricidade e inteligências múltiplas.

Nos próximos meses, o “Yoga com Histórias” também deve ganhar um programa infantil na TV Rá Tim Bum. Os episódios irão trazer histórias, desenhos animados e momentos para as crianças praticarem yoga em casa, junto com toda a família. Para viabilizar os custos desse projeto, eles criaram uma campanha de financiamento coletivo na plataforma Catarse. O objetivo é levantar R$ 280 mil para apoiar nos gastos com a produção. (Porvir/ #Envolverde)

* Publicado originalmente no site Porvir.