Sociedade

Cidadania combina com futebol

Iniciativas educativas promovem valores da coletividade e direitos humanos.

Pretexto para reunir pessoas com objetivos comuns, o futebol, esporte do improviso e da coletividade, proporciona o envolvimento dos jovens com as cidades. No Brasil, diversas possibilidades educativas têm contribuido para valorizar a diversidade, formando ambientes propícios à boa convivência, educação integral e usando o entusiasmo gerado pelo futebol para potencializar a aprendizagem, a participação e a construção de identidades e o exercício da cidadania. Em colaboração com o Centro de Referências em Educação Integral, o Porvir listou abaixo algumas iniciativas passíveis de consideração.

A segunda edição da Copa das Crianças de Rua, por exemplo, reuniu 230 adolescentes, meninos e meninas, de 14 a 17 anos, vindos de 19 países. O objetivo de reabilitar crianças em situação de vulnerabilidade foi fomentado pela organização britânica Street Child United. Depois da copa, uma conferência foi realizada para troca de experiências pessoais, com participação em oficinas artísticas.

 

Foto: ellisia / Fotolia.com
Foto: ellisia / Fotolia.com

 

Outra experiência similar, Futebol Callejero, nasceu na Argentina, no início dos anos 90, como ideia original da Organização Defensores del Chaco. Com foco de atuação em regiões com altos índices de violência, o movimento difundiu-se pela América Latina, Europa e África, ganhando corpo no Brasil, Uruguai, Paraguai, Chile, Equador, Costa Rica, Colômbia, Peru, Panamá, Alemanha e África do Sul. Muito mais do que o futebol em si, nessa iniciativa, o desenvolvimento de valores, a pactuação de regras e o trabalho em equipe são pontos considerados.

Já o projeto Futebol e Cidadania foi criado pela Associação Associação de Apoio à Criança em Risco (ACER Brasil), em Diadema, para ocupar quadras e espaços públicos que estavam sendo mal utilizados na região. Articulados à prefeitura local, ao longo de três anos, organizadores reuniram um grupo de 500 jovens de 9 a 24 anos para que, além de jogarem bola, possam conversar e trocar experiências que contribuam para a socialização e desenvolvimento de habilidades socioemocionais.

Fundada em 1998 pelos jogadores Raí e Leonardo, a Gol de Letra começou com o projeto Virando o Jogo, que implantou uma biblioteca na Vila Albertina, em São Paulo. Orientados por fundamentos da educação integral, passaram a instrumentalizar jovens à leitura. Mas as atividades do projeto foram além, e do desenvolvimento de habilidades físicas e formação intelectual, a dupla lançou atividades de expressão oral e escrita, ensinando não somente pelo esporte, mas por oficinas de vídeo, hiphop, teatro e fotografia.

Atualmente são mais de 1.000 jovens participantes em São Paulo e cerca de 400 no projeto Dois Toques, no Rio de Janeiro, localizado no bairro do Caju, também ligado à Gol de Letra. A comunidade participa na formação de jovens de 15 a 20 anos, ofertando monitoria. Em 2002, a Unesco reconheceu a Gol de Letra enquanto referência à formação de jovens em situação de vulnerabilidade unindo esporte e educação.

Um projeto criado pela FIFA em 2011 com jovens de 11 a 12 anos das cidades-sede do Mundial do Brasil utilizou futebol para para disseminar cuidados de saúde. Com envolvimento dos ministérios do Esporte, da Educação e da Saúde além da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ele foi dividido em duas etapas. A primeira, “jogue futebol”, forma habilidades esportivas. Já a segunda, chamada “jogue limpo”, visa promover a saúde desses estudantes trabalhando alguns pontos principais, conforme a realidade do país. Por exemplo, promovendo cuidados básicos contra doenças como malária, Aids, além de dicas de prevenção a doenças pela alimentação e hábitos de higiene.

Em Cabo Verde, uma experiência de política esportiva chamada Esporte para Todos, transformou a vida de jovens a capital, a cidade de Praia. Entre objetivos principais com apoio da gestão municipal local, buscaram remodelar equipamentos esportivos existentes, construindo também novos espaços; ginásios poliesportivos, quadras de basquete, academias, campos de futebol e de futebol society. Um sistema de comissões estabelecidas entre moradores estreitou a participação cidadã na gestão dos equipamentos esportivos.? Para gestão compartilhada, e mais eficiente na utilização dos recursos, incorporou-se a participação de profissionais do esporte para criação de escolas de iniciação esportiva (futebol, judô, karatê, entre outras modalidades).

Todas essas iniciativas foram cadastradas na iniciativa Mundial da Educação, que pretende levantar projetos que fazem a educação usar os muros da cidade. O Mundial acaba de colocar em ativa a sua segunda chamada e quem quiser pode se cadastrar pela plataforma de projetos, utilizando Facebook ou Google.

* Publicado originalmente no site O Porvir.