Economia

Cidades e municípios pioneiros em inovação e adaptabilidade

Por Redação do Pnuma – 

O planeta poderia evitar os custos financeiros e ambientais do esgotamento de recursos e economizar grandes quantias de dinheiro com o aumento da eficiência. Um novo informe da ONU nos mostra como.

Milão, Itália, 15/6/2015 – Os custos financeiros e ambientais pelo esgotamento dos recursos estão começando a afetar o crescimento econômico em todo o mundo. Por isso, os países precisam encontrar estratégias para manejar recursos finitos atendendo, ao mesmo tempo, as necessidades de uma população mundial em crescimento e cada vez mais urbana.

Se a partir das políticas públicas forem incorporados padrões de consumo e produção sustentáveis no planejamento e na implantação nacional do desenvolvimento, será mais fácil e mais barato produzir bens e serviços de maneira mais eficiente, com menores riscos para a humanidade e o ambiente.

Estudos recentes mostram que uma eficiência maior pode contribuir para reduzir a demanda energética entre 50% e 80% na maioria dos sistemas de produção e nos serviços públicos. Em alguns setores, como construção, agricultura, hotelaria, indústria e transporte, seria comercialmente viável alcançar entre 60% e 80% de melhora na eficiência energética e da água.

Os meios para conseguir isso se apresentam pela primeira vez em um guia do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) intitulado Produção e consumo sustentáveis: Um Manual Para Fazedores de Políticas, lançado por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente (celebrado no dia 5 deste mês).

O manual contém dados muito convincentes, referentes tanto ao impacto de alguns padrões de consumo e de produção não sustentáveis quanto aos benefícios em termos de eficiência que traria a incorporação de padrões sustentáveis de produção e consumo.

Os 1,2 bilhão de pessoas que se estima ainda vivem na extrema pobreza dependem do capital natural, e sua riqueza deriva de atividades relacionadas com a natureza muito mais do que os ricos. A população de baixa renda extrai quase um terço de sua riqueza do capital natural, enquanto a de alta renda depende, aproximadamente, quatro vezes menos do capital natural.

Os serviços ambientais, como a captação de água pelos mangues e outros bens não comerciáveis, podem representar até 47% na Índia ou 90% no Brasil do chamado “PIB dos pobres”, destacando sua vulnerabilidade à contaminação e à mudança climática. É, portanto, essencial adotar padrões de consumo e produção sustentáveis para melhorar a vida das pessoas que vivem na pobreza.

O subsecretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, afirmou que “os últimos 50 anos foram testemunhas de uma rápida transformação de nossa relação com o mundo natural e o uso cada vez maior dos recursos naturais está levando à degradação ambiental. Estamos funcionando, aproximadamente, com 40% acima do ‘orçamento’ da Terra. Mantidas as tendências de população e consumo no modelo atual (business as usual), os níveis de extração anual de recursos registrados em 2000 poderão duplicar até os 140 bilhões de toneladas em 2050”.

Segundo Steiner, “devemos nos perguntar quais serão as consequências desse ritmo de consumo e dessa trajetória de crescimento da população, que, se calcula, poderia chegar a 2050 com nove bilhões de pessoas”.

“O Dia Mundial do Meio Ambiente supõe uma boa oportunidade para que os governos, as instituições e as pessoas se convertam em agentes de mudança. Simplesmente, não podemos nos dar o luxo de desperdiçar nada, já que os recursos estão diminuindo e os preços aumentando. Felizmente, ainda há tempo para transformar os desafios derivados da redução dos recursos finitos em oportunidades que promovam economias prósperas e um planeta saudável para as próximas gerações”, afirmou Steiner.

Segundo o informe, a maior parte do crescimento econômico das últimas duas décadas ocorreu na região Ásia-Pacífico, impulsionado pela acelerada transição de uma série de economias em rápido desenvolvimento, sobretudo a chinesa. Por outro lado, os últimos dez anos viram como os preços de muitos recursos naturais aumentaram substancialmente e se tornaram cada vez mais voláteis.

“Desvincular o crescimento econômico do consumo de recursos e dos impactos ambientais é uma das maneiras de enfrentar esse desafio e também um conceito fundamental no consumo e na produção sustentáveis”, destacou Steiner.

Para os países em desenvolvimento, isso significaria o uso de estratégias inovadoras para dar o salto para uma estrutura de economia verde, garantindo melhor prestação de serviços e acesso aos recursos, e a conservação de sua base de recursos naturais. Nos países desenvolvidos, as estratégias para melhorar a eficiência do uso dos recursos podem ser muito eficazes, mas é preciso considerar em qual medida esses países estão exportando a extração de recursos para países em desenvolvimento. Os dois grupos exigem políticas públicas bem desenhadas e é aí que está a importância desse manual.

Existem diferenças significativas entre as diferentes regiões do mundo: o consumo doméstico material da África é muito baixo, apenas 3,7 toneladas de materiais, o que reflete um nível de vida bem baixo em termos materiais. Por sua vez, desde 2000, Ásia e Pacífico formam a região mais dinâmica tanto no econômico como em termos de uso dos recursos, mas, tendo diminuído sua eficiência de recursos, por fim, o crescimento da população agora é um fator menos importante do que o uso dos recursos naturais na região. O crescimento na América Latina está vinculado ao auge da Ásia por meio da exportação de metais e combustíveis fósseis para alimentar o desenvolvimento de infraestrutura e manufatura na Ásia.

Nos países da Ásia Central e Oriental, as economias se recuperaram, o que resulta no uso cada vez maior de recursos, enquanto os países da União Europeia foram pioneiros no desenvolvimento de políticas para o uso sustentável dos recursos, o que se reflete em níveis comparativamente inferiores de uso de recursos por habitante. Isso é possível, em parte, pela exportação de muitos dos processos com alto nível de emissões e de consumo de recursos para outros países.

As cidades já demonstram que a proteção do ambiente pode ser rentável de diversas maneiras. A União Europeia, por exemplo, estima que a cidade de Viena economizou 44 milhões de euros (e cem milhões de CO2) entre 2004 e 2007 com seu programa Ecobuy. A cidade de Windhoek, na Namíbia, adaptou um sistema de tubulação duplo que permitiu reduzir a demanda de água potável em 5% a 7%. Seus sistemas de recarga artificial de aquíferos permitem a essa cidade subsaariana sobreviver durante dois anos sem depender de rios temporários.

Em Buenos Aires, graças ao seu Plano de Mobilidade Sustentável, já se vê um entorno econômico superior ao ambiental, como resultado da melhora dos sistemas de transporte e da redução do tempo dos trajetos entre 10% e 25% (e até 65% em alguns casos).

O Conselho Multissetorial para o Desenvolvimento Sustentável das Ilhas da Paragua (Filipinas) facilitou a implantação de uma iniciativa pioneira para promover o turismo com zero emissão de carbono nas ilhas, por meio de um sistema de compensação para os novos complexos hoteleiros.

As autoridades chinesas e indianas, entre outras, estão facilitando opções para os que procuram viver de forma mais sustentável, mediante a introdução de sistemas de ecorotulagem com trajetória comprovada que remonta à década de 1970. Nas universidades de Egito, Quênia, Tanzânia, Moçambique e Maurício, os estudantes seguem um programa que combina formação em estilos de vida sustentáveis com habilidades de desenvolvimento empresarial.

Na Ásia, um estudo realizado em três cidades (Tianjin, Lanzhou e Qinhuangdo) apresentado pelo Centro de Produção e Consumo Sustentáveis, revelou que a redução direta em emissões e consumo de recursos permitiu economizar, em apenas um ano, 20,36 megawatts (MW) de eletricidade, 32.269 quilolitros de água e 14.008 quilolitros de petróleo, ao mesmo tempo em que foram reduzidos os resíduos em 24,42 toneladas e as emissões de CO2 em 105,75 toneladas.

A maioria dos produtos e serviços é proporcionada pelo setor privado, por isso as empresas têm um papel fundamental para que a sociedade adote padrões de consumo e produção sustentáveis. As empresas, ao contrário dos clientes, conhecem os ciclos de vida completos de seus produtos, desde a extração de recursos pelos fornecedores até o impacto ambiental que ocorre uma vez que o produto quebre ou fique obsoleto, e costumam ter habilidade para traduzir os esforços de sustentabilidade em vantagens competitivas.

Por exemplo, os fabricantes de detergente para roupas descobriram que o desenvolvimento de novos produtos eficazes a temperaturas mais baixas economizava dinheiro dos clientes, reduziam o impacto ambiental de seus produtos e lhes dava uma vantagem comercial significativa.

Também já se observa exemplos de colaboração, tanto pública como privada, de mais de 160 países, como com a Organização Internacional de Normatização (ISO), uma rede de institutos de normas nacionais, e o Design para a Sustentabilidade (D4S) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

O governo das Ilhas Virgens, dos Estados Unidos, promoveram uma associação público-privada entre o Ministério de Energia e um consórcio formado por um banco especializado em investimentos e fornecedores de serviços de tecnologia, com a finalidade principal de reduzir a dependência dos combustíveis fósseis em 60% no prazo de 15 anos. Espera-se que o programa se autofinancie, após um investimento inicial, com a economia nos custos de serviços públicos.

O guia do Pnuma contém uma nutrida recopilação de estudos de caso sobre iniciativas de consumo e produção sustentáveis de todo o mundo, que recorre a instrumentos de política, processos de implantação e metodologias e indicadores de acompanhamento e avaliação. Também contém dados muito convincentes referentes tanto ao impacto de padrões de consumo e de produção não sustentáveis como aos benefícios em termos de eficiência que a incorporação de padrões sustentáveis de produção e consumo traria.

O guia ajudará governos e outras organizações a utilizarem as políticas e ferramentas de consumo e produção sustentáveis para alcançar os objetivos nacionais de desenvolvimento por meio de um aumento da eficiência dos recursos, da redução dos custos de produção e da geração de empregos.

Uma gestão melhor dos padrões de consumo por meio de políticas e estilos de vida inteligentes ajudará a criar um modelo alternativo de crescimento econômico no qual as necessidades da maioria fiquem satisfeitas de uma maneira melhor graças à gestão inteligente dos apreciados recursos.

* Publicado originalmente no site do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Tradução e edição: Envolverde.