Ambiente

Aquecimento é comparado a ameaça nuclear

Alguns dos signatários da Declaração de Mainau 2015 sobre Mudanças Climáticas. Foto: Ch. Flemming / Lindau Nobel Laureate Meetings
Alguns dos signatários da Declaração de Mainau 2015 sobre Mudanças Climáticas. Foto: Ch. Flemming / Lindau Nobel Laureate Meetings

Em encontro anual na Alemanha, ganhadores de prêmios Nobel em ciência pedem acordo decisivo na conferência de Paris e esforço conjunto para evitar ‘tragédia humana por atacado’

Por Cíntya Feitosa, do OC

Quase 40 vencedores de prêmios Nobel recomendam que os governos ajam imediatamente para reduzir emissões de gases de efeito estufa e minimizar os riscos das mudanças climáticas. Os cientistas, participantes da reunião anual de laureados com o Nobel em Mainau, na Alemanha, compararam os riscos das mudanças no clima à ameaça das armas nucleares. “Há quase 60 anos, aqui em Mainau, uma reunião semelhante de laureados com o Nobel de ciência lançou uma declaração sobre os perigos inerentes à então recém-desenvolvida tecnologia das armas nucleares. Até agora, temos evitado a guerra nuclear, embora a ameaça seja permanente. Acreditamos que nosso mundo hoje enfrenta outra ameaça de magnitude comparável”, diz a declaração, assinada por 36 dos 65 participantes do encontro.

O documento ressalta a importância de os governos agirem imediatamente e firmar um acordo decisivo em Paris, em dezembro deste ano, com o esforço conjunto de todas as nações, desenvolvidas ou em desenvolvimento. “A omissão sujeitará as futuras gerações da humanidade ao risco inconcebível e inaceitável”, diz o texto. A declaração cita a responsabilidade dos cientistas quanto à questão, uma vez que o progresso da ciência também gerou aumento do consumo de recursos naturais. “Se não for controlada, a demanda crescente por alimentos, água e energia acabará por superar a capacidade da Terra para satisfazer as necessidades da humanidade, e vai levar a tragédia humana por atacado.”

Os cientistas também alertaram para a necessidade de ação urgente em relação às populações mais vulneráveis a eventos extremos, em especial países e comunidades pobres do planeta. David Gross, Nobel de Física em 2004, um dos porta-vozes da declaração, relatou sua recente experiência em Ladakh, na Ásia. “São comunidades frágeis, muito dependentes dos rios que brotam das geleiras do Himalaia, e eles são os que sofrem em primeiro lugar.” O físico também aponta o risco de conflitos motivados pelos eventos extremos e escassez de recursos.

A declaração reafirma a importância das conclusões do IPCC, embora ainda aja incerteza entre alguns cientistas sobre as consequências das mudanças no clima. “Apesar de não ser perfeito, acreditamos que os esforços que levaram ao relatório representam a melhor fonte de informações sobre o estado atual do conhecimento sobre as mudanças climáticas”, diz a declaração. “Nós não falamos como especialistas na área, mas como um grupo diverso de cientistas que têm um profundo respeito e compreensão da integridade do processo científico.”

Sobre as dúvidas acerca da ciência do clima, o Nobel de medicina Peter Doherty separa ceticismo de negação. “Se você é cético, conversa com outros pesquisadores, olha para os dados. Se está em negação, simplesmente rejeita tudo o que é publicado.” Em uma crítica aos céticos do clima nos Estados Unidos, em especial aos políticos que advogam contra a causa no país, Steven Chu, Nobel de Física e ex-secretário de Energia dos EUA, argumenta que os satélites mostram claramente a diminuição das geleiras em todo o mundo. “Mas há pessoas no Congresso que não querem olhar para imagens de satélite. Isso é o que eu chamo de negação.” (Oservatório do Clima/ #Envolverde)

* Publicado originalmente no site Observatório do Clima.